quarta-feira, 7 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
A Ressurreição: Morrer com Cristo, para com Ele ressuscitar

Muitos hoje estão vivos biologicamente falando, mas espiritualmente morreram e não ressuscitaram com Jesus. O pior de tudo irmãos, é que nossas igrejas estão cheias de “fiéis” assim, infelizmente. Acreditamos num Deus vivo e verdadeiro, que todos os dias nos ensina coisas belíssimas, mas não aprendemos a morrer e ressuscitar com Ele.
O catequista Paulo, nos ensina: “Fomos, pois, sepultados com Ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova.” (Rm 6,4)
Participar efetivamente da Semana Santa está além de observar atentamente seus acontecimentos . Morrer e ressuscitar com Cristo é ter uma atitude de mudança efetiva enquanto cristão, é perceber que o Reino está em cada um de nós se deixarmos e quisermos que Ele viva em nós verdadeiramente.
Hoje muitos sentem-se cristãos, tantos destes são catequistas, e dentre estes alguns se julgam prontos, no entanto não reconhecem que é preciso morrer. Temer a morte é encará-la como o fim e por sua vez não enxergar a vitória de Cristo sobre a mesma.
Mais uma vez, Paulo nos diz na I carta aos Coríntios 15,55: “A morte foi tragada pela vitória (Is 25,8). Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão (Os 13,14)?” . Despojemos-nos do espírito de morte que nos ronda e acreditemos piamente que podemos ressuscitar com Cristo em nossos sonhos, em nossos trabalhos pastorais para uma vida nova.
Faz-se necessário querer meus irmãos! Antes de tudo querer! Queira sem medo e diga para si mesmo: Preciso morrer com Cristo, para com Ele ressuscitar! Quero que morra comigo esta catequese enfadonha e desvinculada da realidade, quero que morra o pessimismo, o comodismo, a minha falta de fé. Quero que morra o ciúme , a inveja, minha incapacidade, minhas enfermidades, minha indiferença, minha auto-suficiência.
Que viva o Cristo Ressuscitado, que Ele viva e reine em meu lar, meu trabalho, minha catequese, em minha vida! Vivamos o projeto de Deus, a partir desta ressurreição meus irmãos, vivamos hoje e sem medos, pois Ele ressurgiu e levou consigo todas as nossas dores. Repito: é preciso crermos!
As nossas tribulações diárias não podem e não devem nos afastar da glória, por isso pensemos sempre que o sacrifício de Cristo não foi em vão e que mais ainda, não foi em vão que Ele Ressuscitou e vem a nós sempre. Confiai irmãos e tudo será menos difícil pois estaremos cada vez mais próximos do projeto que o Pai tem para nós.
Na alegria do Cristo Ressuscitado, que nos permite morrer e ressuscitar com Ele, despertemos para uma vida nova em seu amor!
Anunciando e denunciando,
sábado, 3 de abril de 2010
Sábado Santo

No dia do silêncio: a comunidade cristã vela junto ao sepulcro. Calam os sinos e os instrumentos. É ensaiado o aleluia, mas em voz baixa. É o dia para aprofundar. Para contemplar. O altar está despojado. O sacrário aberto e vazio.
A Cruz continua entronizada desde o dia anterior. Central, iluminada, com um pano vermelho com o louro da vitória. Deus morreu. Quis vencer com sua própria dor o mal da humanidade. É o dia da ausência. O Esposo nos foi arrebatado. Dia de dor, de repouso, de esperança, de solidão. O próprio Cristo está calado. Ele, que é Verbo, a Palavra, está calado. Depois de seu último grito da cruz "por que me abandonaste?", agora ele cala no sepulcro. Descansa: "consummantum est", "tudo está consumado". Mas este silêncio pode ser chamado de plenitude da palavra. O assombro é eloqüente. "Fulget crucis mysterium", "resplandece o mistério da Cruz".
O Sábado é o dia em que experimentamos o vazio. Se a fé, ungida de esperança, não visse no horizonte último desta realidade, cairíamos no desalento: "nós o experimentávamos… ", diziam os discípulos de Emaús.
É um dia de meditação e silêncio. Algo pareceido à cena que nos descreve o livro de Jó, quando os amigos que foram visitá-lo, ao ver o seu estado, ficaram mudos, atônitos frente à sua imensa dor: "Sentaram-se no chão ao lado dele, sete dias e sete noites, sem dizer-lhe uma palavra, vendo como era atroz seu sofrimento" (Jó. 2, 13).
Ou seja, não é um dia vazio em que "não acontece nada". Nem uma duplicação da Sexta-feira. A grande lição é esta: Cristo está no sepulcro, desceu à mansão dos mortos, ao mais profundo em que pode ir uma pessoa. E junto a Ele, como sua Mãe Maria, está a Igreja, a esposa. Calada, como ele. O Sábado está no próprio coração do Tríduo Pascal. Entre a morte da Sexta-feira e a ressurreição do Domingo nos detemos no sepulcro. Um dia ponte, mas com personalidade. São três aspectos -não tanto momentos cronológicos- de um mesmo e único mistério, o mesmo da Páscoa de Jesus: morto, sepultado, ressuscitado:
"...se despojou de sua posição e tomou a condição de escravo…se rebaixou até se submeter inclusive à morte, quer dizer, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre sua alma e seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em que Ele expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado de Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o mistério do Sábado Santo em que Cristo depositado na tumba manifesta o grande repouso sabático de Deus depois de realizar a salvação dos homens, que estabelece na paz o universo inteiro".
Vigília Pascal
A celebração é no sábado à noite, é uma Vigília em honra ao Senhor, segundo uma antiqüíssima tradição, (Ex. 12, 42), de maneira que os fiéis, seguindo a exortação do Evangelho (Lc. 12, 35 ss), tenham acesas as lâmpadas como os que aguardam a seu Senhor quando chega, para que, ao chegar, os encontre em vigília e os faça sentar em sua mesa.
A Vigília Pascal se desenvolve na seguinte ordem:
- Breve Lucernário
Abençõa-se o fogo. Prepara-se o círio no qual o sacerdote com uma punção traça uma cruz. Depois marca na parte superior a letra Alfa e na inferior Ômega, entre os braços da cruz marca as cifras do anos em curso. A continuação se anuncia o Pregão Pascal. ´
Liturgia da Palavra: Nela a Igreja confiada na Palavra e na promessa do Senhor, media as maravilhas que desde os inícios Deus realizou com seu povo.
- Liturgia Batismal : São chamados os catecúmenos, que são apresentados ao povo por seus padrinhos: se são crianças serão levados por seus pais e padrinhos. Faz-se a renovação dos compromissos batismais.
- Liturgia Eucarística : Ao se aproximar o dia da Ressurreição, a Igreja é convidada a participar do banquete eucarístico, que por sua Morte Ressurreição, o Senhor preparou para seu povo. Nele participam pelas primeira vez os neófitos.
Toda a celebração da Vigília Pascal é realizada durante a noite, de tal maneira que não se deva começar antes de anoitecer, ou se termine a aurora do Domingo.
A missa ainda que se celebre antes da meia noite, é a Missa Pascal do Domingo da Ressurreição. Os que participam desta missa, podem voltar a comungar na segunda Missa de Páscoa.
O sacerdote e os ministros se revestem de branco para a Missa. Preparam-se os velas para todos os que participem da Vigília
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Exaltação da Santa Cruz

A pregação da Cruz é uma necessidade para os que se perdem; mas para os que se salvam - para nós - é força de Deus. Por que diz a Escritura:
Destruirei a sabedoria dos sábios, e inutilizarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde o douto? Onde o sofista deste mundo? De fato, como o mundo através de sua própria sabedoria não conheceu Deus na divina sabedoria, quis Deus salvar os crentes através da necessidade da pregação.
Assim, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado: escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, mas para os chamados, tanto judeus quanto gregos, um Cristo, força de Deus e sabedoria de Deus. 1
As palavras do apóstolo Paulo, lidas na solenidade da Exaltação da veneranda e santificadora Cruz, marcam o sentido inequívoco que, desde o princípio, tivera para os cristãos o patíbulo dos malfeitores, que era a cruz. Por que, pois, estranhar-se que a Igreja a tenha considerado objeto de culto particular?
Romano o Melode, imaginando um diálogo entre o diabo e o inferno, põe na boca do primeiro as palavras:
Belial, é tempo de abrires o ouvido. A hora presente far-te-á ver o império da Cruz, e o grande poder do Crucificado. Para ti, a Cruz não é senão loucura; porém toda a Criação a considera como um trono desde que, nela cravado, escuta Cristo como juiz em atividade. 2
A forma de cruz das igrejas antigas, inclusive hoje nas de tradição bizantina, evoca a virtude ou força da ação redentora desse sinal.
A Cruz defende a todos do maligno e de seus ataques. Os marcados com o sinal de Cristo têm a esperança confiante de entrar no paraíso. 3
Nas igrejas bizantinas, atrás do altar e no ponto mais alto do Iconostase, destaca-se a Crucifixão, 4 com o objetivo de que, de qualquer ponto do templo e a todo momento, possa atrair o olhar dos fiéis para a Árvore da Vida, plantada no novo paraíso universal, frondosa e muito mais honorável que a do Éden. 5
De modo que, instruídos sobre a adoração da Cruz, feita de matéria comum, rendamos nossa adoração, não à matéria, mas àquele nela crucificado.6
Após ter degustado a morte sob a árvore proibida, Adão volta à vida sob a árvore da Cruz. Pode, Senhor, de agora em diante saborear de novo as delícias do paraíso.
Em Adão está representada toda a linguagem humana, pelo que, também nós, gozamos de idêntico benefício, pois, como outro paraíso, a Igreja possui atualmente uma árvore da vida: a Cruz vivificadora de Cristo. Saboreando seu fruto, alcançamos a imortalidade.7
Além dessas citações, por assim dizer externas, são vários os Ofícios que recordam a importância da Cruz na economia de nossa salvação.
O ciclo litúrgico semanal dedica-lhe a Sexta-feira; e cada dia, na liturgia das Horas, a Hora Nona, que foi a da morte na Cruz. 8
Encontramos, além disso, no calendário, algumas festas dedicadas à Cruz ou nas quais se celebra o mistério: umas são móveis, outras fixas. 9
As festas móveis são:
a) A grande Sexta-Feira Santa. No Ofício da Paixão, e cantando o hino:
Hoje foi colocado no lenho
aquele que sustém a terra sobre as águas.
É coroado de espinhos o Rei dos anjos.
Púrpura injuriosa é a veste
de quem cobrira o céu de nuvens.
Recebe cusparadas
aquele que no rio Jordão
libertou Adão de seu pecado.
Cravado é o Esposo da Igreja,
transpassado pela lança o Filho da Virgem.
Teus sofrimentos, Cristo, hoje veneramos;
mostra-nos também a glória de tua ressurreição. 10
Leva-se processionalmente a Cruz, depositando-a depois no centro da nave para que possa ser venerada pelo clero e o povo fiel. 11
b) Terceiro Domingo da Quaresma. Denomina-se, por isso, Domingo da Adoração da Cruz. Trata-se de uma festa tipicamente constantinopolitana, que teve origem no translado de uma relíquia insigne da Cruz para a capital do Império. Segundo alguns liturgistas, tal festa tinha nascido relacionada com a reposição da verdadeira Cruz de Jerusalém pelo imperador Heráclio, no dia 21 de março de 631, após tê-la resgatado dos persas, que a tinham roubado como despojo de guerra. 12
A cerimônia litúrgica segue o seguinte programa: no sábado, após as Vésperas, translada-se a relíquia da Santa Cruz para o altar, onde fica exposta durante toda a noite. Os cânticos de Matinas compostos por Teodoro Studita (758-826), 13 vão expressando os temas da festa:
Dia de adoração da Santa Cruz!
Todos se acercam para adorá-la!
Vede-a exposta perante nós:
brilha com os esplendores
da ressurreição de Cristo.
Vamos, pois, com alegria espiritual,
render-lhe veneração.
Terminadas as Matinas, o celebrante faz uma procissão na própria igreja, carregando a Cruz no alto para colocá-la finalmente na peanha diante do Iconostase.
Vão todos se aproximando para adorar a sagrada relíquia, enquanto cantam:
Tua Cruz, Senhor, adoramos
e proclamamos tua santa ressurreição.
Salva teu povo, Senhor,
e abençoa tua herança;
concede aos governantes 14
vitória sobre os bárbaros;
e dá-nos, por tua Cruz, parte em teu reino.
A homilética sobre essa festividade insiste no seguinte:
Hoje, mostra-se a Igreja de Cristo como novo paraíso: ao expor o santo madeiro da Cruz, antecipa a Paixão e a Ressurreição. 15
As duas solenidades móveis vêm coroadas de outras três fixas, com a ordem seguinte, no calendário bizantino: 16
a) A Exaltação 17 universal da veneranda e vivificadora Cruz, que se celebra no dia 14 de setembro e da qual falaremos mais extensamente.
b) A memória da aparição celeste do sinal da Cruz, cuja celebração tem lugar no dia 7 de maio. Comemora-se, então, a aparição, no céu de Jerusalém, do sinal da Cruz quando era imperador Constâncio, filho de Constantino o Grande, durante o episcopado de São Cirilo de Jerusalém.
A aparição deu-se precisamente no dia 7 de maio de 351, na terça-feira antes da Ascensão, pelas nove horas da manhã: foi visível durante muitas horas e para todos. Marcava no céu o espaço compreendido entre o Gólgota e o Monte das Oliveiras. 18
O caráter protetor e salvífico da Cruz, como determinante dessa festividade, vem sintetizá-lo a oração própria desse dia que assim diz:
Abre-me os lábios, ó Rei dos séculos, ilumina minha mente e meu espírito, e santifica minha alma para poder, ó Verbo, louvar tua Cruz venerada; envia teu Espírito e instrui-me, de sorte que possa exclamar com amor:
Salve, ó Cruz, glória do universo!
Salve, ó Cruz, fortaleza da Igreja!
Salve, inexpugnável bastião dos sacerdotes!
Salve, diadema dos reis!
Salve cetro do soberano Criador de todas as coisas!
Salve, ó Cruz, na qual Cristo aceitou padecer e morrer!
Salve, grande consolo dos aflitos, arma invencível no meio da luta!
Salve, Cruz, ornato dos anjos e proteção dos fiéis!
Salve, ó Cruz, pela qual foi o inferno derrotado!
Salve, ó Cruz, pela qual fomos redimidos!
Salve, lenho bem-aventurado! 19
c) A procissão da preciosa e vivificadora Cruz, que se celebra no dia primeiro de agosto. Tal como a que coincide com o Terceiro Domingo da Quaresma, também essa festa teve origem em Constantinopla. A relíquia da Cruz ia expondo-se em diversas igrejas, retomando ao palácio imperial a 14 de agosto; longa procissão estacional, pois, com demoradas estações nas várias igrejas. A finalidade era conjurar as enfermidades motivadas pelos calores estivais, por um lado, e santificar, por outro, as ruas da "cidade construída por Deus". 20
Um dos hinos da festa nos manifesta a profunda veneração de que era objeto nesse dia a Cruz do Senhor, assim como a confiança depositada nela:
Veneremos a Cruz preciosa,
remédio universal
e fonte de santidade.
É lenitivo das dores,
desterra a enfermidade
e livra de todo sofrimento os enfermos.
E agora, após breve análise sobre as festas litúrgicas, nas quais as igrejas de tradição bizantina dedicam especial atenção à Cruz, detenhamo-nos para refletir sobre a festividade da Exaltação:
A festa da "Exaltação Universal da preciosa e vivificadora Cruz" surge em Jerusalém. Lê-se em um discurso do monge Alexandre 21 sobre essa festividade que a imperatriz:
Helena - mãe de Constantino, o Grande - assegurava ter tido uma visão celeste, na qual se ordenava ir a Jerusalém para descobrir os santos lugares durante tanto tempo ignorados (.. .). Ante a dúvida e as vacilações de não poucos, exorta todos a uma fervorosa oração. Logo vem a ser descoberto por aquele bispo o lugar da divina Paixão, onde se tinha colocado a estátua da impuríssima Vênus. Com a autoridade que lhe outorga seu cargo, a imperatriz mandou, então, destruir o templo do demônio. Feito isso, de imediato descobriu-se o sepulcro de Jesus Cristo, aparecendo, pouco depois, três cruzes. Após busca diligente, encontraram-se também os cravos.
A imperatriz quis saber imediatamente qual das três cruzes era a de Jesus Cristo. Achando-se ali gravemente enferma, quase à morte, uma nobre dama, aplicando-lhe as cruzes, pôde-se saber, no mesmo instante, qual era a Cruz desejada, uma vez que, com a aplicação da Cruz de Jesus Cristo, tocada pela graça divina, ergue-se do leito a enferma completamente curada e glorificando ao Senhor em altas vozes (...).
O imperador pede ao então bispo, Macário, que apresse a edificação das respectivas basílicas, enviando-lhe um arquiteto e grande soma em dinheiro, com a ordem expressa de que os sagrados edifícios (no Gólgota, em Belém, e no Monte das Oliveiras) se decorassem com o maior esplendor, de sorte que não houvesse nada igual no mundo. 22
No século V, o dia 13 de setembro é aniversário da dedicação das basílicas constantinianas. Segundo a peregrina Egéria, tinha-se determinado esse dia, alguns anos antes - talvez em 335 - por ser a data do descobrimento da Cruz. 23
Cirilo de Jerusalém, na XIII Catequese, que se realizara provavelmente em 347, diz textualmente:
A Paixão é real: verdadeiramente foi crucificado. E não nos envergonhemos disso. Foi crucificado. E não o negamos; pelo contrário, comprazemo-nos em afirmá-lo. Chegaria a envergonhar-me, se me atrevesse a negar o Gólgota que temos à vista; afastaria dos olhos o madeiro da Cruz que dessa cidade distribuiu-se como relíquias pelo mundo todo.
Reconheço a Cruz, porque conheço a ressurreição. Se o Crucificado tivesse permanecido em tal situação, não reconheceria a Cruz; apressar-me-ia, pelo contrário, em escondê-la, juntamente com meu Mestre. Como após a Cruz vem a Ressurreição, não me envergonho de falar longamente da mesma. 24
A festa da Cruz, a 14 de setembro, difundiu-se rapidamente por todo o Oriente, eclipsando a comemoração da dedicação da basílica constantiniana. 25 Em Roma, no século VI, celebrava-se a Exaltação no dia 3 de maio. Posteriormente - no século VII - começou a apresentar-se o madeiro da Cruz à veneração do povo, no dia 14 de setembro. 26
O resgate da Cruz pelo imperador Heráclio em 631 não veio senão incrementar e consolidar um culto já amplamente difundido.
As igrejas de tradição bizantina relacionaram a festa do dia 14 de setembro entre as do Senhor (despotika) - de primeira classe - e, portanto, entre as 12 grandes festividades litúrgicas. É precedida de uma vigília (preortia) e seguida de sete dias pós-festivos (meteortia), mais outro oitavo de despedida da festa (apodosis), que coincide com o dia 21 do referido mês de setembro.
A celebração litúrgica, muito simples em si, tem seu ponto mais alto no gesto do celebrante, que podemos ver refletido no Ícone. Vejamo-lo em detalhes.
No dia da festa, o celebrante, após pequena procissão, pára no centro da igreja; e levanta então, ao alto, a relíquia da Cruz.
A assembléia faz, ao mesmo tempo, a mais simples de todas as orações e mais própria de uma criatura ante a misericórdia do Deus criador: "Piedade, Senhor!" Repete-se 100 vezes a oração.
Repete o celebrante o gesto de elevar ao alto a Cruz, voltando-se para os quatro pontos cardeais, enquanto o povo reza, canta e exclama 100 vezes: "Piedade, Senhor!"
Deposita-se depois a Cruz em um grande recipiente cheio de flores e coloca-se sobre um tetrapodium no centro da igreja. O Clero e todos os fiéis, prostrando-se de joelhos, vão adorando a Cruz e recebendo uma flor das que serviram de enfeite à relíquia.
«Adoração da Cruz»
Pôde-se observar como os hinos e toda essa exposição falam sempre de «adoração» da Cruz. Pela única razão de que muito rapidamente a Cruz veio a ser a imagem do Crucificado e da sua Ressurreição: dois aspectos distintos, porém, inseparáveis, de um só mistério.
«Adoramos, Senhor, tua Cruz e glorificamos tua santa Ressurreição», é o tema mais comum dos hinos. Eis mais um exemplo do que foi dito:
Na Cruz, Cristo deu morte ao autor de nossa morte.
Devolveu a vida e a beleza a quem as tinha perdido;
e, num desdobramento de bondade e misericórdia,
restituiu-lhes o direito de cidadania no céu.Na Cruz cancelaste, Senhor, o assentamento de nossa dívida.
Cantado entre os mortos, prendeste o tirano que reinava sobre eles; e com tua ressurreição, libertaste-nos dos laços da morte. 27
Sobre o que deveriam ser tributadas as honras à Cruz, pronunciaram-se dois Concílios:
No Concílio Quinissesto de 692, os Padres prescreveram que se rendesse à santa Cruz «a adoração em espírito, nos lábios e nos sentidos». 28 E no segundo Concílio de Nicéia (787), concretiza-se a natureza exata da referida adoração: à santa Cruz, como aos ícones, deve-se tributar «adoração honorífica», «não culto propriamente dito» reservado somente a Deus. Porque «a honra dirigida à imagem passa ao protótipo, e o que adora a imagem, adora a pessoa nela representada». 29
Os textos litúrgicos, homiléticos e epigráficos documentam como semelhante prescrição conciliar estava profundamente enraizada nos usos e costumes. 30
André de Creta (660-740), por exemplo, disse claramente:
Nós adoramos a Cruz, uma vez que nela bendizemos ao Crucificado. 31
O mesmo atestam outros textos de origem mais humilde e, por isso, sem dúvida maiores expressões da verdadeira piedade dos fiéis. Seria bom exemplo a inscrição do século Vil, que faz falar assim à própria Cruz:
Sou a Cruz, salvaguarda do universo;
minha morada é a eternidade,
onde gozo de igual veneração à do Corpo imortal. 32
Sexta-feira Santa - O mistério da cruz

O coração tem razões que a razão não compreende": expressão da sabedoria popular que se usa para definir atitudes humanas indefiníveis. A mesma expressão deve valer, e com maior razão, para aceitarmos as "loucuras de amor" do coração de Deus no mistério da cruz. Por isso mesmo que é mistério: a inteligência entende menos a cruz que o coração. São "pensamentos do coração".
A cruz simboliza as duas direções que se cruzam do mandamento do amor: o amor a Deus na direção vertical e o amor ao próximo na direção horizontal. Pela primeira Carta do Apóstolo João (Uo 4,10), sabemos que antes de mandar amar, Deus nos amou primeiro. Em sua encíclica "Deus é Amor", o papa Bento 16 observa: "Agora o amor já não é apenas um mandamento, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro" (n° 10). Antes de mandar amá-lo e amar o próximo, Ele ama.
A cruz é o sinal que marca, envolve e acompanha a vida do cristão. Ela é sempre a forte lembrança da maior prova do amor de Deus pela humanidade: a entrega do Seu Filho único pela vida do mundo. A Eucaristia é mais do que simples lembrança do ato de amor. É a Sua presença duradoura, fonte e ápice da vida cristã, conforme a define o Concílio Vaticano 2°. A cruz só fala do amor. Olhá-la e não ver o que ela significa de amor é não ver sentido nela. Como os judeus, que só vêem nela motivo de escândalo; como os pagãos, que só vêem loucura, conforme testemunha São Paulo na primeira Carta aos Coríntios: "Pois o que é dito loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (ICor l, 25).
Olhar a cruz e não ver que foi nela que Jesus Cristo, o amor encarnado de Deus, deu sua vida por nós é não ver o que viu o oficial romano que estava bem na frente da cruz na hora em que Jesus expirou: "De fato esse homem era mesmo o Filho de Deus" (Mc 15, 39).
Olhar a cruz e não ver que nela se travou o verdadeiro duelo entre vida e morte com a vitória da vida é estar desamparado na fé segundo declaração do apóstolo Paulo: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé". Eis a mais bela lição da cruz na qual Jesus Cristo ofereceu por nós sua vida: a morte por amor não é negação da vida. É passagem, é Páscoa.
É assim também toda morte unida à dele: caminho para a ressurreição.
Cito mais uma vez Bento 16 na encíclica "Deus é Amor": "Eis como Jesus descreve seu caminho pessoal que o conduz através da cruz à ressurreição: o caminho do grão de trigo que morre e dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, Ele, com tais palavras, descreve a essência do amor e da existência humana em geral" (n° 8).
Escondido pelo manto da noite para não ser reconhecido pêlos companheiros do Sinédrio e, ao mesmo tempo, atraído pela luz que desfaz as trevas, Nicodemos vai ao encontro de Jesus porque sente que Deus está com Ele mas ainda não vê Deus nele. E Jesus revela-lhe: "É necessário que o Filho do homem seja levantado para que todos que nele crerem tenham a vida eterna" (Jo 3,14).
Levantado na cruz ele esteve para que todos vejam nele o quanto Deus amou o mundo entregando por ele o seu Filho unigênito; levantado na cruz Ele implorou perdão ao Pai pêlos seus algozes que não "sabem o que fazem", jeito próprio da misericórdia divina de perdoar; levantado na cruz Ele deu cumprimento ao oráculo do Senhor Javé para o profeta Ezequiel: "Deus não quer a morte do pecado, e sim que ele se converta e viva" (Ez 18,23-32).
Na Sexta-feira Santa, a liturgia da Igreja celebra o mistério da cruz fazendo-nos sentir o significado e o alcance dos sofrimentos de Jesus como Sumo Sacerdote da nova aliança: "Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E tornou-se a fonte de salvação eterna para todos que lhe obedecem" (Heb.5, 8-9).
A sua experiência de "servo sofredor" era inseparável da sua experiência íntima com Deus.
O momento comovente dessa celebração é a "adoração da cruz", exposta de modo encenado e com a participação dos fiéis. E; a cada vez que a cruz vai sendo desvelada, canta-se: "Eis o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo. Vinde adoremos!".
A cruz não é um lenho que significa morte, mas vida. Hoje celebramos a morte do Senhor na cruz; hoje contemplamos sua cabeça coroa da de espinhos, suas chagas expostas e o lado do seu coração rasgado pela lança; hoje beijamos seu Corpo pendente na cruz; hoje consolamos sua Mãe dolorosa que nos foi dada por Ele mesmo como nossa mãe.
A Igreja também canta nesse dia: "Salve, ó cruz, nossa esperança!" Porque, no primeiro dia da semana, manhã da Páscoa da nova aliança, como Ele mesmo havia predito, "o Filho do homem sofrerá muito, será entregue à morte, mas ao terceiro dia ressurgirá" (Mt 16, 21).
Ele "retomará a vida que livremente ofereceu ao Pai" para caminhar vitorioso no meio de nós: "Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt28,20).
Se me perguntarem: por que Jesus Cristo quis morrer na cruz? Responderei simplesmente: o coração de Deus tem razões que a inteligência humana não compreende.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
A Quinta-feira Santa - O que é e o que se comemora
A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no misterio da Paixão de Cristo, já que quem deseja seguí-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo.
E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho idôneo da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos.
Neste sentido, o Evangelho de São João apresenta a Jesus 'sabendo que o Pai pôs tudo em suas mãos, que vinha de Deus e a Deus retornava', mas que, ante cada homem, sente tal amor que, igual como fez com os discípulos, se ajoelha e lava os seus pés, como gesto inquietante de uma acolhida inalcansável.
São Paulo completa a representação lembrando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristía.
A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da su paixão, "enquanto ceava com seus discípulos tomou pão..." (Mt 26, 26).
Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos se reunissem e se recordassem dEle abençoando o pão e o vinho: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22,19).
Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso "quando comemos deste pão y bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte" (1Cor 11, 26).
Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte de Cristo que é Senhor, e "Senhor da Morte", isto é, o Resuscitado cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se: "Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis" (Jo 16, 16).
Como diz o prefácio deste dia: "Cristo verdadeiro e único sacerdote, se ofereceu como vítima de salvação e nos mandou perpetuar esta oferenda em sua comemoração". Porém esta Eucaristia deve ser celebrada com características próprias: como Missa "na Ceia do Senhor".
Nesta Missa, de maneira diferente de todas as demais Eucaristias, não celebramos "diretamente" nem a morte nem a ressurreição de Cristo. Não nos adiantamos à Sexta-feira Santa nem à noite de Páscoa.
Hoje celebramos a alegria de saber que esta morte do Senhor, que não terminou no fracasso mas no êxito, teve um por quê e um para quê: foi uma "entrega", um "dar-se", foi "por algo"ou melhor dizendo, "por alguém" e nada menos que por "nós e por nossa salvação" (Credo). "Ninguém a tira de mim,(Jesus se refere à sua vida) mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e poder de retomá-la." (Jo 10, 18), e hoje nos diz que foi para "remissão dos pecados" (Mt 26, 28c).
Por isso esta Eucaristia deve ser celebrada o mais solenemente possível, porém, nos cantos, na mensagem, nos símbolos, não deve ser nem tão festiva nem tão jubilosamente explosiva como a Noite de Páscoa, noite em que celebramos o desfecho glorioso desta entrega, sem a qual tivesse sido inútil; tivesse sido apenas a entrega de alguém mais que morre pelos pobres e não os liberta. Porém não está repleta da solene e contrita tristeza da Sexta-feira Santa, porque o que nos interessa "sublinhar" neste momento, é que "o Pai entregou o Seu Filho para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"(Jo 3, 16) e que o Filho entregou-se voluntariamente a nós apesar de que fosse através da morte em uma cruz ignominiosa.
Hoje há alegria e a Igreja rompe a austeridade quaresmal cantando o "glória": é a alegria de quem se sabe amado por Deus; porém ao mesmo tempo é sóbria e dolorida, porque conhecemos o preço que Cristo pagou por nós.
Poderíamos dizer que a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega con amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria.
Podemos dizer que hoje celebramos com a liturgia (1a. Leitura) a Páscoa. Porém a da Noite do Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida (Js 5, 10-ss).
Hoje inicia a festa da "crise pascoal", isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi absorvida pela morte mas sim combatida por ela. A noite do sábado de Glória é o canto à vitória porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta, mas de quem vence, porque sua arma é o amor