segunda-feira, 1 de março de 2010

Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã

“Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu Corpo e seu Sangue.

Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição:

- sacrifício de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura glória” (SC 47).

“Não recebemos pão e vinho comuns, mas Jesus Cristo, nosso Salvador, que se encarnou e se fez carne e sangue por nossa salvação” (S. Justino, Apologia I.ª, 66,2). O mistério eucarístico é fonte inesgotável da vida e das atitudes do cristão. Não há ação cristã transformadora que nele não esteja alicerçada, alimento que nos torna consangüíneos e concorpóreos de Cristo, irmãos e irmãs entre nós. A comunhão com o Ressuscitado edifica a Igreja como comunidade de fé, esperança e caridade.

“A natureza da Igreja – afirmam os bispos do Brasil –, torna-se evidente na Eucaristia. De fato, o pão que partimos é a comunhão com o Corpo do Senhor. E, uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos comemos de um mesmo pão. Assim, Cristo é o vínculo profundo de união de uma comunidade e Aquele que une na comunhão todas as comunidades eclesiais, que somente podem ser Igreja de Cristo enquanto permanecerem unidas, nele e por ele, a todas as outras comunidades” (CNBB, doc. 40, n. 60).

Sacramento da Unidade

A Eucaristia é o sacramento da comunhão no Corpo e no Sangue de Cristo: ao mesmo tempo, sacramento da Igreja e comunhão no seu mistério pascal. Celebrada numa Igreja viva, a Eucaristia não constitui apenas um momento qualquer da experiência eclesial, senão o ponto culminante dela. Sinergia entre a ação de Cristo e a da Igreja, constrói a comunidade eclesial. Ao afirmarmos que a Igreja faz a Eucaristia, não asseveramos que seja simplesmente fruto da decisão de um grupo de pessoas; pelo contrário, embora as pessoas dela participem ativamente, ela é, sobretudo e em primeiro lugar, dom de Cristo para sua comunidade.

Ele nos oferece, primeiramente, a fé e a palavra e, depois, nos concede sua própria presença no maior de todos os sinais de unidade, a fim de que tenhamos força para plasmar seu corpo, a Igreja. Pão dado para a vida do mundo, Sangue derramado para o perdão dos pecados, a Eucaristia é fonte de vida para cada cristão e para a comunidade eclesial, “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Sacramento da unidade, convida as comunidades a vencer suas divisões “para que o mundo creia” (Jo 17,21). O testemunho que a Igreja deve dar terá a marca da unidade, da fé e da eficácia do serviço.

O Sacramento da Missão

A Igreja acredita na eficácia do serviço, porque é discípula fiel daquele que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). O serviço não pode ser um peso, mera obrigação; é preciso descobrir a alegria de servir, a felicidade de se colocar no último lugar para estar à disposição de todos, sem distinção. A Eucaristia constitui o “lava-pés” mais perfeito, diaconia que levou Jesus até à morte, e morte de cruz! Ninguém está tão perto de nós como Cristo Eucarístico; ninguém foi mais longe em amor como Ele! A Eucaristia é memorial do “perto” e do “longe” do mistério de Cristo!

Na comunidade reunida pelo Senhor, o cristão escuta a Palavra que liberta e salva, oferece com os dons do pão e do vinho o trabalho, o sofrimento, as alegrias, os desencontros, mas, acima de tudo, a esperança num mundo melhor, alimentado pelo Pão da vida. Pela força do Espírito, entra em comunhão com Deus e com os irmãos para, em seguida, lançar-se à missão. A Missa termina onde começa a Missão! “Ide em paz” não é um convite para o individualismo e o anonimato no mundo secularizado e despersonalizado, mas para que, juntos, como discípulos do divino Mestre, percorramos as estradas da nova evangelização.

Em sua Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, João Paulo II acentua a importância espiritual da celebração dominical da Eucaristia:

- “Ao congregar semanalmente os cristãos como família de Deus à volta da mesa da Palavra e do Pão da vida, a Eucaristia dominical é também o antídoto mais natural contra o isolamento; é o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada.

Precisamente mediante a participação eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja, que poderá, assim, desempenhar de modo eficaz sua missão de sacramento de unidade” (n. 36).

Eucaristia e a escuta da Palavra

“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na sagrada liturgia, sem cessar toma da mesa, tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo, o Pão da vida, e o distribui aos fiéis” (DV, 21).

Com esta afirmação do Concílio Vaticano II, torna-se evidente a relação íntima entre Palavra e Eucaristia. Duas mesas:

- um único alimento.

Cristo nutre, é princípio de vida, que sustenta o povo de Deus a caminho da terra prometida. É igualmente fonte, “de onde jorram rios de água viva” (Jo 7,38). “Como a chuva e a neve descem dos céus e a ele não retornam sem haver regado a terra e sem a ter fecundado e feito germinar, para que ela dê a semente ao semeador e o pão que é comido, assim também a palavra que sai da minha boca não retorna sem resultado, sem ter feito o que eu queria e levado a efeito sua missão” (Is 55,10-11).

Cristo-Palavra e Cristo-Pão

Cristo-Palavra conduz ao Cristo-Pão. A palavra que arde nos corações dos fiéis também os introduz no mistério da Ceia. Movidos pela palavra do Ressuscitado, ousamos pedir: “Fica conosco, pois a tarde cai e o dia declina” (Lc 24,29). Em cada celebração da Eucaristia somos fortalecidos por Cristo-Palavra que se torna pão. A palavra “é espírito e vida” (Jo 6,63). A liturgia da palavra e a liturgia eucarística formam, pois, um único ato de culto (SC, 56). A Igreja alimenta-se com o Pão da vida na mesa da palavra de Deus e do corpo de Cristo, na ceia eucarística.

Na Palavra, anuncia-se a aliança divina; na Eucaristia, renova-se esta mesma aliança. Na Palavra, recorda-se a história da salvação; na Eucaristia, a mesma história se desenvolve por meio de sinais sacramentais. A Palavra conduz à Eucaristia (CNBB, doc. n.º 52, n.º 28). A palavra de Cristo funda a Igreja. Antes de ser comunidade eucarística e batismal, a Igreja deve ser uma comunidade evangélica, convocada pela Palavra. A palavra de Deus funda o novo Reino (Mt 13,19). Como fermento, tende a unir as pessoas em um só pão (Mt 13,13).

A Igreja celebrante tem o privilégio dessa presença de Jesus. Onde está a Igreja, aí encontra-se a palavra de Deus, Jesus Cristo, luz dos povos. O Pai envia sua Palavra como salvação; Cristo entrega seu corpo como alimento. A Palavra purifica; o Corpo fortalece. A Palavra aponta o caminho; o Corpo sustenta na caminhada. A Palavra é fonte de vida; o Corpo no-la dá em abundância.

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